Era o dia em que tudo poderia correr bem. Era o dia em que deveria correr tudo bem. Foi o dia em que nem tudo correu bem. Mas cabeça levantada. Vamos a factos.
Combinei cedo com o pessoal do Vale Grande. Sabia que havia a questão de estradas cortadas por causa de haver a prova dos 10km às 9h35m e também há sempre os pequenos atrasos naturais de toda a gente. Dorsais distribuídos, muita galhofa, até que começa a cair chuva forte e feio. Tudo para dentro dos carros e aproveitar para equipar. Fiz uma pequena incursão à zona da partida para ir à casa de banho e depois foi a hora de fazer um bom aquecimento. Por esta altura já estava encharcado. Aquele a quem chamam São Pedro não perdoou.
Hora de ir para a partida. Não vou mentir. Gosto de estar no bloco da frente. Dá uma liberdade antes da prova começar bastante grande. Basicamente entrei no bloco 2 minutos antes das 10h. Partida dada. Vi um grupo restrito de atletas a irem para a frente da prova mas decidi não arriscar em ritmos loucos nos primeiros quilómetros. Os primeiros 2km foram feitos de forma tranquila e ainda deu para trocar algumas palavras com o pequeno grupo com quem seguia. Depois começou o pequeno inferno... molhado.
Durante o aquecimento já tínhamos percebido o que nos esperava. Em direção a Santa Apolónia iria ser sempre com vento contra e com uma boa carga de água a ajudar. O grupo com quem seguia demorou poucos quilómetros a desfazer-se e segui com um atleta durante vários quilómetros. Ele disse-me que estava só a fazer um treino para a Maratona de Sevilha. Tendo em conta a tareia que me deu em termos de tempo final (ficou em 3º da geral com 01h11m26s), também me faz desejar um dia fazer treinos assim eheheh. A partir do 6º quilómetro aumentou o ritmo e eu consegui seguir com ele. Estava esperançado que me ajudasse a fazer uma boa prova.
Passámos aos 10km com 34m50s e isso fez-me torcer logo o nariz. Estava longe do meu objetivo e percebi que aqueles 6 quilómetros iniciais tinham prejudicado o andamento. A partir daqui comecei a ficar para trás tal foi o aumento de ritmo dele. No entanto ainda deu para ultrapassar um atleta. Na viragem quando pensei que a minha prova fosse mudar, a realidade bateu-me de frente. Na verdade foi mesmo o vento que me continuou a bater de frente. Não sei que raio de fenómeno natural estava a acontecer, mas mesmo depois de levar com vento de frente num direção, na direção oposta continuava a levar com bastante vento. Em Sintra estou habituado a isto, em Lisboa não.
Apesar de seguir completamente sozinho, achei que não poderia baixar os braços. Num ritmo um pouco intermitente, sempre a passar pelo meio de poças que pareciam lagos, virei para a rua da Prata sempre com a passada a medo naquela bela calçada molhada e escorregadia. Na curva no topo do Rossio para a rua do Ouro ainda me derrapou o pé o que foi um belo cagaço. A descer o Terreiro do Paço também a certa altura quase que me senti a deslizar.
Passado a Ribeira das Naus tive os meus momentos caricatos da prova. Momentos caricatos que me deixaram bastante chateado. Primeiro na curva que sai da Ribeira das Naus para Cais do Sodré estava uma poça enorme e funda. Então todos os atletas que seguiam em sentido contrário estavam a desviar-se dela pelo sentido contrário sem deixar uma nesga para eu passar. Lá tive que mandar um berro para me deixarem passar. E agora vou ser mau: então quer dizer, eu e mais outro atleta que íamos completamente sozinhos passamos pelo meio da poça (aquela porra era funda mesmo) quando íamos em direção ao Cais do Sodré e o resto do pessoal que vem em pelotão desvia-se todo? Então mas estão com medo de molhar os ténis? Eu vou-me ficar por aqui porque não me quero alongar, mas foi uma enorme falta de respeito todos aqueles que prejudicaram quem seguia em sentido contrário.
Mas não acaba por aqui. Passado um quilómetro mete-se uma pessoa a atravessar a estrada e de repente pára a falar para trás mesmo em cima de mim, ainda me desviei mas ainda lhe bati com o braço. E não é que exatamente a mesma situação tornou a acontecer passado mais uma centenas de metros? Enfim, às vezes não entendo onde as pessoas têm a cabeça.
Por esta altura seguia completamente sozinho. O ritmo não ia muito estável. E estava com grandes oscilações. É a minha meia maratona preferida para tempos e porque não há a confusão de outras provas mais comerciais mas falta competitividade a esta prova. Aos 16/17km vi aquilo que iria ser a minha motivação: vi um atleta que seguia no meu horizonte e tentei aumentar o ritmo de forma estável para o conseguir apanhar. Demorei pouco mais de um um quilómetro para o apanhar. A partir daqui tinha a motivação foi ele não me ultrapassar. Mas inconscientemente ao perceber que me tinha distanciado dele o ritmo tornou a baixar. Porra.
Após um vigésimo quilómetro fraquíssimo, olhei para trás e percebi que não poderia amolecer. O atleta que tinha ultrapassado estava próximo. Até pessoas do público me estavam a avisar disso. Acelerei, ia olhando para trás e quando vejo a meta no horizonte, olho uma vez mais para trás e percebo que tinha segurado a posição. Olho para o tempo no relógio da meta e imediatamente fico triste.
Passei a meta e apoio-me numa das muitas grades. Abano a cabeça, penso naquilo que correu mal e tento não deitar aquelas grades todas abaixo tal era a raiva que se estava a acumular. Conversei um pouco com os atletas que ficaram à minha frente e acalmei.
Terminei em 4º da geral e em 3º do escalão. Fiz uma 01h13m27s no meu relógio, bem longe do meu objetivo de baixar para a casa da 01h12m. O meu objetivo real era baixar um minuto o meu melhor tempo. Muito ambicioso? Talvez. Mas sei que sou capaz. O tempo não ajudou em nada e o ir sozinho conseguiu-me prejudicar.
Mas sabem uma coisa? Estou contente com a raiva que tenho dentro de mim. A minha vontade neste momento é de recomeçar os treinos e carregar forte e feio. Não vou baixar os braços, a época ainda nem a meio vai e existe muitos quilómetros para fazer.
Uma última palavra a toda a gente que gritou o meu nome durante a prova. Perdi a conta há quantidade de vezes que puxaram por mim. Havia alturas de gritarem por mim várias pessoas por minuto. Com vocês, nunca me sinto sozinho. Obrigado!
Resultados: Meia-Maratona dos Descobrimentos 2016
Combinei cedo com o pessoal do Vale Grande. Sabia que havia a questão de estradas cortadas por causa de haver a prova dos 10km às 9h35m e também há sempre os pequenos atrasos naturais de toda a gente. Dorsais distribuídos, muita galhofa, até que começa a cair chuva forte e feio. Tudo para dentro dos carros e aproveitar para equipar. Fiz uma pequena incursão à zona da partida para ir à casa de banho e depois foi a hora de fazer um bom aquecimento. Por esta altura já estava encharcado. Aquele a quem chamam São Pedro não perdoou.
Fonte: Armindo Santos |
Durante o aquecimento já tínhamos percebido o que nos esperava. Em direção a Santa Apolónia iria ser sempre com vento contra e com uma boa carga de água a ajudar. O grupo com quem seguia demorou poucos quilómetros a desfazer-se e segui com um atleta durante vários quilómetros. Ele disse-me que estava só a fazer um treino para a Maratona de Sevilha. Tendo em conta a tareia que me deu em termos de tempo final (ficou em 3º da geral com 01h11m26s), também me faz desejar um dia fazer treinos assim eheheh. A partir do 6º quilómetro aumentou o ritmo e eu consegui seguir com ele. Estava esperançado que me ajudasse a fazer uma boa prova.
Fonte: Luis Duarte Clara |
Apesar de seguir completamente sozinho, achei que não poderia baixar os braços. Num ritmo um pouco intermitente, sempre a passar pelo meio de poças que pareciam lagos, virei para a rua da Prata sempre com a passada a medo naquela bela calçada molhada e escorregadia. Na curva no topo do Rossio para a rua do Ouro ainda me derrapou o pé o que foi um belo cagaço. A descer o Terreiro do Paço também a certa altura quase que me senti a deslizar.
Passado a Ribeira das Naus tive os meus momentos caricatos da prova. Momentos caricatos que me deixaram bastante chateado. Primeiro na curva que sai da Ribeira das Naus para Cais do Sodré estava uma poça enorme e funda. Então todos os atletas que seguiam em sentido contrário estavam a desviar-se dela pelo sentido contrário sem deixar uma nesga para eu passar. Lá tive que mandar um berro para me deixarem passar. E agora vou ser mau: então quer dizer, eu e mais outro atleta que íamos completamente sozinhos passamos pelo meio da poça (aquela porra era funda mesmo) quando íamos em direção ao Cais do Sodré e o resto do pessoal que vem em pelotão desvia-se todo? Então mas estão com medo de molhar os ténis? Eu vou-me ficar por aqui porque não me quero alongar, mas foi uma enorme falta de respeito todos aqueles que prejudicaram quem seguia em sentido contrário.
Mas não acaba por aqui. Passado um quilómetro mete-se uma pessoa a atravessar a estrada e de repente pára a falar para trás mesmo em cima de mim, ainda me desviei mas ainda lhe bati com o braço. E não é que exatamente a mesma situação tornou a acontecer passado mais uma centenas de metros? Enfim, às vezes não entendo onde as pessoas têm a cabeça.
Fonte: Luis Duarte Clara |
Fonte: FAZatletismo |
Passei a meta e apoio-me numa das muitas grades. Abano a cabeça, penso naquilo que correu mal e tento não deitar aquelas grades todas abaixo tal era a raiva que se estava a acumular. Conversei um pouco com os atletas que ficaram à minha frente e acalmei.
Terminei em 4º da geral e em 3º do escalão. Fiz uma 01h13m27s no meu relógio, bem longe do meu objetivo de baixar para a casa da 01h12m. O meu objetivo real era baixar um minuto o meu melhor tempo. Muito ambicioso? Talvez. Mas sei que sou capaz. O tempo não ajudou em nada e o ir sozinho conseguiu-me prejudicar.
Mas sabem uma coisa? Estou contente com a raiva que tenho dentro de mim. A minha vontade neste momento é de recomeçar os treinos e carregar forte e feio. Não vou baixar os braços, a época ainda nem a meio vai e existe muitos quilómetros para fazer.
Uma última palavra a toda a gente que gritou o meu nome durante a prova. Perdi a conta há quantidade de vezes que puxaram por mim. Havia alturas de gritarem por mim várias pessoas por minuto. Com vocês, nunca me sinto sozinho. Obrigado!
Resultados: Meia-Maratona dos Descobrimentos 2016
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ASC Vale Grande
dezembro 4, 2016
8
Estiveste muito bem e fizeste um super tempo, mesmo com essas questões que referiste!
ResponderEliminarSim, os tempos estão todos com 22 segundos menos mas acredito que ainda rectificarão.
Um abraço e solta essa raiva numa das próximas :)
Ah não me tinha apercebido desse facto João! Obrigado!
EliminarSoltarei com certeza :) Um abraço
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarSó descobri este blogue hoje e não pude ficar indiferente a este relato.
ResponderEliminarAcho que a prova de ontem foi muito particular. Já li de tudo. Muita gente a quem correu muito bem, muita gente a quem correu muito mal (incluo-me neste lote! - mas eu sou mera amadora principiante).
Toda a passagem no Cais do Sodré e Baixa é muito gira, mas muito má para correr, no meio de buracos, obras e empedrados... Juntando a isso as pessoas, como referiste, tornam o percurso uma aventura!...
Acho que o espírito agora é mesmo esse: continuar a treinar e canalizar essa raiva para bons resultados. Muitos parabéns pelo excelente tempo!
Obrigado pelas palavras!
EliminarNa altura custou mas agora olhando para trás há que ficar contente com o resultado e continuar a trabalhar!
Mais uma vez, obrigado!
Olhando às peripécias estiveste muitíssimo bem e o tempo que persegues está aí, so falta acertar o dia. E continuar a luta. Muitos parabéns e força nisso.
ResponderEliminarAbraço
Mais tarde ou mais cedo os resultados aparecem :) Obrigado!
EliminarAbraço
"Bravo"
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