A nossa vida é feita de fases. Os nossos valores e características pessoais não se alteram, mas se a nossa mente não está 100% focada naquilo que está a fazer, os resultados ficam comprometidos. No último mês, por motivos extra-corrida, pouco tenho pensado em treinos e em provas. Cheguei ao 1º de Maio sem estar focado na prova e não me sinto satisfeito com essa situação. (In)felizmente esta foi mais uma daquelas provas em que no fim acabam por existir pontos positivos.
A juntar ao factor mental, ontem à noite passei umas boas horas bastante desconfortável da barriga. Sabia que era provável que passa-se durante a noite pois não era a primeira vez que sentia este tipo de desconforto, mas estava com medo que afetasse a prova. De manhã sentia-me bem melhor e com as pernas frescas ou não tivesse levado uma pequena tareia do Paulo Monteiro na sexta. Cheguei com a habitual hora de antecedência ao Parque de Jogos 1º de Maio para recolher o dorsal, e depois foi hora de equipar e ir aquecer. Hoje fui o único representante do Vale Grande e o pessoal destas andanças até estranhou.
Perto da hora definida, fui para o bloco de partida onde já estavam centenas de atletas. Tentei chegar-me um bom bocado à frente, mas chegou a uma altura que já não estava confortável para pedir mais vezes para me deixarem passar. E isso acabou por influenciar na partida, pois senti dificuldades em ultrapassar durante umas boas dezenas de metros.
Depois de sair do Parque, tentei logo apostar num ritmo alto pois sabia que era na primeira parte da prova que deveria apostar na velocidade. Com esta aposta acabei por me isolar na altura em 5º/6º lugar. Fui apanhado por um atleta que me puxou autenticamente durante alguns quilómetros, tal era o ritmo que ele levava. Nos túneis quando descíamos, tinha dificuldades em acompanhá-lo mas quando começávamos a subir conseguia recuperar alguns dos metros perdidos. Fomos entretanto apanhados por um atleta que seguia em grande velocidade e ainda pensei que tivesse ali um bom grupo para fazermos uma boa prova.
Seguia um atleta no nosso campo de visão que tinha ficado para trás do grupo que liderava a prova. Estava a usar esse atleta como motivação, tendo como objetivo ultrapassá-lo. Na subida do último túnel apostei numa passada forte e os dois atletas que seguiam comigo ficaram para trás. Começou então a fase da descida do Saldanha até ao Marquês. Aproveitei o embalo e lentamente fui-me aproximando do atleta que tinha no meu campo de visão. Chegando à rotunda, desculpem-me a frontalidade, mas fiquei fodido quando o vejo a cortar a rotunda autenticamente indo pelo passeio. Decidi naquele momento que não ia apostar naquele jogo e enquanto ele cortava caminho, eu fazia a minha prova pela estrada como mandam as regras.
Ele ganhou-me uns bons metros e a meio da Avenida da Liberdade levava-me um bom avanço. O problema de ir a descer demasiado tempo é que o corpo se habitua e instintivamente começa a travar. Eu pensava que ia rápido, mas quando olho par ao relógio percebo que tinha desacelerado. Tornei a apostar num ritmo forte, cruzando a Rua do Ouro a um bom ritmo. Aproveito para agradecer mais uma vez a todos os estrangeiros que estão na rua a bater palmas (os portugueses correspondem a 0.1% das pessoas que apoiam os atletas em Lisboa) e mais uma vez a todos os espanhóis que fizeram mais barulho quando eu passava por mais uma vez pensarem que eu era espanhol ehehe.
Quando chegámos ao Martim Moniz pensei logo que era ali que a verdadeira prova iria começar e que a minha prova se iria decidir. Logo nas primeiras dezenas de metros da longa subida da Almirante Reis apanhei o atleta que seguia à minha frente e rapidamente o deixei de ouvir atrás de mim. Continuei a apostar num andamento forte e constante, apesar do desânimo de cada vez que olhava para o relógio (ritmos a marcar os 4:00/km). Ainda passei por uma pequena peripécia, com um senhor de muletas com uma cerveja de litro na mão (ou litrosa como se chamava no meu tempo de adolescente) que começou a atravessar a estrada e foi parar mesmo à minha frente, conseguindo desviar-me quase em cima dele.
Quando a subida começou a ficar mais dura, um agente da policia que deve ter experiência em corrida, disse-me para alargar a passada e a verdade é que me ajudou a manter o ritmo pois por aquela altura já seguia com a passada muito curta devido à inclinação positiva. Depois disto não existe mais grande história. Quando cheguei ao 14º quilómetro, decidi olhar para trás e percebi que ia completamente à vontade e dado que não via nenhuma atleta à minha frente há bastantes quilómetros, decidi apostar num ritmo forte mas controlado para as últimas centenas de metros.
Cortei a meta em 4º de geral e em 2º do escalão sénior, completando os 15km com 52m57s, quase 1 minuto e meio pior que o meu melhor tempo. Não é um resultado que me deixa orgulhoso, apesar da boa classificação. Esperava um tempo melhor.
Deixo apenas uma pergunta no ar: o que está a acontecer às provas em Lisboa? Como é possível numa das provas mais tradicionais e concorridas, eu ficar em 4º da geral com quase 53 minutos? Eu fui a esta prova para ir correr contra os melhores e no entanto andei praticamente a prova toda sozinho. Mas só as provas mais comerciais é que interessam? Não consigo deixar de sentir um amargo de boca ao colocar este troféu na minha estante. Não gosto de não sentir prazer em subir a um pódio. Espero que entendam esta minha observação.
Resultados: Brevemente
A juntar ao factor mental, ontem à noite passei umas boas horas bastante desconfortável da barriga. Sabia que era provável que passa-se durante a noite pois não era a primeira vez que sentia este tipo de desconforto, mas estava com medo que afetasse a prova. De manhã sentia-me bem melhor e com as pernas frescas ou não tivesse levado uma pequena tareia do Paulo Monteiro na sexta. Cheguei com a habitual hora de antecedência ao Parque de Jogos 1º de Maio para recolher o dorsal, e depois foi hora de equipar e ir aquecer. Hoje fui o único representante do Vale Grande e o pessoal destas andanças até estranhou.
Perto da hora definida, fui para o bloco de partida onde já estavam centenas de atletas. Tentei chegar-me um bom bocado à frente, mas chegou a uma altura que já não estava confortável para pedir mais vezes para me deixarem passar. E isso acabou por influenciar na partida, pois senti dificuldades em ultrapassar durante umas boas dezenas de metros.
Depois de sair do Parque, tentei logo apostar num ritmo alto pois sabia que era na primeira parte da prova que deveria apostar na velocidade. Com esta aposta acabei por me isolar na altura em 5º/6º lugar. Fui apanhado por um atleta que me puxou autenticamente durante alguns quilómetros, tal era o ritmo que ele levava. Nos túneis quando descíamos, tinha dificuldades em acompanhá-lo mas quando começávamos a subir conseguia recuperar alguns dos metros perdidos. Fomos entretanto apanhados por um atleta que seguia em grande velocidade e ainda pensei que tivesse ali um bom grupo para fazermos uma boa prova.
Fonte: Luis Duarte Clara |
Ele ganhou-me uns bons metros e a meio da Avenida da Liberdade levava-me um bom avanço. O problema de ir a descer demasiado tempo é que o corpo se habitua e instintivamente começa a travar. Eu pensava que ia rápido, mas quando olho par ao relógio percebo que tinha desacelerado. Tornei a apostar num ritmo forte, cruzando a Rua do Ouro a um bom ritmo. Aproveito para agradecer mais uma vez a todos os estrangeiros que estão na rua a bater palmas (os portugueses correspondem a 0.1% das pessoas que apoiam os atletas em Lisboa) e mais uma vez a todos os espanhóis que fizeram mais barulho quando eu passava por mais uma vez pensarem que eu era espanhol ehehe.
Quando chegámos ao Martim Moniz pensei logo que era ali que a verdadeira prova iria começar e que a minha prova se iria decidir. Logo nas primeiras dezenas de metros da longa subida da Almirante Reis apanhei o atleta que seguia à minha frente e rapidamente o deixei de ouvir atrás de mim. Continuei a apostar num andamento forte e constante, apesar do desânimo de cada vez que olhava para o relógio (ritmos a marcar os 4:00/km). Ainda passei por uma pequena peripécia, com um senhor de muletas com uma cerveja de litro na mão (ou litrosa como se chamava no meu tempo de adolescente) que começou a atravessar a estrada e foi parar mesmo à minha frente, conseguindo desviar-me quase em cima dele.
Fonte: Jaime Maurício |
Cortei a meta em 4º de geral e em 2º do escalão sénior, completando os 15km com 52m57s, quase 1 minuto e meio pior que o meu melhor tempo. Não é um resultado que me deixa orgulhoso, apesar da boa classificação. Esperava um tempo melhor.
Fonte: Jaime Maurício |
Resultados: Brevemente
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1º de Maio
maio 1, 2017
5
Parabéns pela prova!
ResponderEliminarMandaste uma boca ao batoteiro quando o deixaste para trás?
Eu também refiro a questão dos estrangeiros no meu blog.
Obrigado Nuno! Não, não mandei porque não valia a pena... infelizmente é o prato dia, talvez quem esteja mal sou eu, não sei..
EliminarVou ler o teu artigo! :)
Muitos parabéns pela prova, apesar do teu desencanto.
ResponderEliminarEssa de cortar caminho... imagino o quanto ficaste. Eu vou sempre a lutar pelo meu tempo e nunca por lugares mas se vejo fazerem isso...
Quanto à pergunta final. Ainda esta semana vi um atleta referir que em 1987 marcou 53.51 e ficou em 58º entre 800 atletas. No ano passado, esse resultado dar-lhe-ia o 8º em 1.400... E, acrescento agora eu, este ano dava o 6º.
Um abraço
Obrigado João. Quanto a atalhos, eu mesmo lutando por lugares vou sempre manter os meus valores. A minha consciência acima de tudo.
EliminarEu também oiço histórias dessas e fico fascinado com a discrepância que há com as classificações de agora..
Um abraço!
Antes de mais, parabéns por mais uma prova e bom resultado à geral.
ResponderEliminarA culpa não é tua se os outros não vão.
Mas isso significa que estavam noutra onde os prémios eram mais elevados, estavam no estrangeiro ou agora apenas há os atletas de pelotão e o resto são "CR7 e Ricardinho wannabe"?
Abraço