Sim eu sei, já prometi este artigo no domingo e só agora estou a publicá-lo. Já disse que entrei de férias da corrida? Por isso deixou de me apetecer escrever aqui e esquecer a corrida por completo. Ou então estou a dizer só asneiras. Como esquecer a corrida? Aliás, estou tão de férias que ainda hoje de manhã fui ao treino do Centro de Marcha e Corrida de Odivelas. Bem vamos lá à Corrida das Fogueiras.
Tal como aconteceu no ano passado, consegui juntar a minha claque privada toda e seguimos de carro cheio para Peniche. Este ano devido ao trabalho da minha mãe e da minha mais que tudo, saímos mais tarde, chegando apenas depois das 20h a Peniche. Com os dorsais já levantados pela minha equipa, foi tempo de nos encontrarmos para distribuição dos dorsais que faltavam. A tarefa foi algo complicada por causa do jogo da seleção e também não ajudou o facto de eu estar a stressar porque estava convencido que a prova começava às 21:15 pois era o que estava no site da Xistarca.
Já equipado, fui aquecer sozinho e com "fogo no cu". Curiosamente foi no aquecimento que fiquei a perceber que me sentia bastante bem a nível físico. E porque faço questão de referir isto? Voltando ao dia anterior, tinha no menu um treino de 40 minutos moderado. Nos primeiros minutos desse treino percebi logo que estava completamente derrotado e que me sentia sem força e pesado. O meu pensamento imediato foi que tudo estava encaminhado para fechar a época com uma péssima prova. Mas às vezes o nosso corpo brinca connosco.
A poucos minutos do que eu pensava ser o início da prova, fui para a zona da partida. Foi então que ouvi o speaker a dizer que ainda faltavam mais de 15 minutos para o início da prova... urso. Fui continuando a aquecer, fazendo várias paragens para falar com o pessoal que ia encontrando na zona da partida. Quase 10 minutos antes da partida fui para o meu bloco e percebi que tinha sido uma boa decisão pois em 2 minutos o bloco encheu por completo. A partida estava iminente, sabia que esta era a minha última prova da época e por isso iria dar tudo o que podia.
A partida foi rápida mas estável. Um bom grupo de atletas instalou-se na frente e eu segui no encalço deles. Consegui colar-me ao grupo e durante os primeiros 3 quilómetros consegui acompanhá-los. Depois aconteceu o esperado e lentamente comecei a ficar para trás, ficando completamente isolado. Este facto iria manter-se durante grande parte da prova.
Dado o fantástico/incrível/suberbo público de Peniche, na verdade, nunca me senti sozinho. Aliás só tinha razões para me sentir motivado, pois cada vez que passava por pessoas as palmas e palavras de força eram só para mim! Isto até me afetou entre o quilómetro 4 e 5 (quando passamos na marina perto da meta) uma zona cheia de público estava a bater palmas e eu ainda comecei a incentivá-los, puxando por eles e pedindo mais barulho. Claro que eles responderam em alto e bom som, o que só me deu energia para as primeiras subidas da prova.
Com as subidas o ritmo também desceu naturalmente mas nunca parei de forçar o andamento. Sabia que não podia desistir mesmo seguindo sozinho. Na zona das fogueiras, o vento não ajudava e o pior ainda estava para vir. De mansinho começou a cair alguma chuva miudinha o que por um lado serviu para arrefecer o corpo (mesmo com temperaturas "baixas" estava a transpirar bastante, coisa que não é normal) mas por outro tornou o chão bastante escorregadio, começando a sentir os pés a não agarrarem totalmente ao asfalto.
Por esta altura começo a ver um atleta no meu campo de visão e percebo que em algumas centenas de metros o poderia alcançar. Dito e feito. Ele não se deixou esmorecer e seguiu comigo. Juntos enfrentámos as piores partes da prova, aquelas últimas boas subidas, com chuva e vento contra a atirar para o forte.
Foi por volta do 11º quilómetro que começou a parte desagradável desta prova e que me conseguiu deixar chateado. Quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa calma e até me esforço para não me meter em confusões. Às vezes reclamo das coisas mas tento controlar-me ao máximo e tento "passar ao lado" de certas situações. Se há coisa que eu faço durante a prova, é tentar ser cuidadoso e tentar agir de forma que não prejudique ninguém. Por exemplo, se há coisa que eu não gosto é de nas curvas apertadas fechar o espaço aos atletas que vão atrás de mim para minimizar o risco de quedas.
Ora bem, esta prova não foi diferente. Com o chão bastante escorregadio e seguindo um atleta atrás de mim, estava a ser bastante cuidadoso na minha abordagem às curvas e algumas parte do piso mais acidentado. A certa altura o atleta passa para a minha frente e numa rotunda bastante apertada, ele fecha-me completamente o caminho. Nessa altura fiquei a pensar "pronto ok, está com medo que o ultrapasse por dentro, tranquilo..." mas também fiquei a pensar que foi a primeira vez que tal me sucedeu. Sim, até hoje nunca ninguém me tinha fechado o caminho como ele fez.
Tornei a passar para a frente dele e foi quando a festa começou. Ele ia como se diz na gíria "à mama" aproveitando o facto de eu ir na frente e estar a cortar o vento. Toca-me uma vez no pé. Toca-me uma segunda vez no pé. E torna a repetir a brincadeira mais umas duas/três vezes. Se ele fez de propósito? Acredito que não. Mas na situação dele, para mim bastava acontecer-me uma vez. Passava imediatamente para o lado e deixava de andar "à mama". Um toque destes é o suficiente para causar uma bruta queda, isto tendo em conta a velocidade a que nós seguíamos. Mas a festa não tinha acabado.
A menos de 2 quilómetros do final, ele adicionou a cereja no topo do bolo. Ele seguia ligeiramente atrás de mim, fazemos uma curva apertada à direita e que tinha um bom passeio. Que é que ele faz? Toca de cortar a curva toda seguindo por cima do passeio, acabando a curva ao meu lado. Isso já não tolero. Saiu-me logo "foda-se, que é essa merda pá?!". Decidi nesse momento que me ia esfarrapar todo para que ele não acabasse à minha frente.
Seguimos mais algumas centenas de metros juntos mas à entrada para o último quilómetro e correndo o risco de ser muito cedo pois sabia que ainda faltava a boa subida que nos leva para a meta, comecei a atacar com tudo aquilo que ainda tinha. Ele que viesse comigo se conseguisse. E tentou.
Resultados: 39ª Corrida das Fogueiras
Tal como aconteceu no ano passado, consegui juntar a minha claque privada toda e seguimos de carro cheio para Peniche. Este ano devido ao trabalho da minha mãe e da minha mais que tudo, saímos mais tarde, chegando apenas depois das 20h a Peniche. Com os dorsais já levantados pela minha equipa, foi tempo de nos encontrarmos para distribuição dos dorsais que faltavam. A tarefa foi algo complicada por causa do jogo da seleção e também não ajudou o facto de eu estar a stressar porque estava convencido que a prova começava às 21:15 pois era o que estava no site da Xistarca.
Já equipado, fui aquecer sozinho e com "fogo no cu". Curiosamente foi no aquecimento que fiquei a perceber que me sentia bastante bem a nível físico. E porque faço questão de referir isto? Voltando ao dia anterior, tinha no menu um treino de 40 minutos moderado. Nos primeiros minutos desse treino percebi logo que estava completamente derrotado e que me sentia sem força e pesado. O meu pensamento imediato foi que tudo estava encaminhado para fechar a época com uma péssima prova. Mas às vezes o nosso corpo brinca connosco.
A poucos minutos do que eu pensava ser o início da prova, fui para a zona da partida. Foi então que ouvi o speaker a dizer que ainda faltavam mais de 15 minutos para o início da prova... urso. Fui continuando a aquecer, fazendo várias paragens para falar com o pessoal que ia encontrando na zona da partida. Quase 10 minutos antes da partida fui para o meu bloco e percebi que tinha sido uma boa decisão pois em 2 minutos o bloco encheu por completo. A partida estava iminente, sabia que esta era a minha última prova da época e por isso iria dar tudo o que podia.
A partida foi rápida mas estável. Um bom grupo de atletas instalou-se na frente e eu segui no encalço deles. Consegui colar-me ao grupo e durante os primeiros 3 quilómetros consegui acompanhá-los. Depois aconteceu o esperado e lentamente comecei a ficar para trás, ficando completamente isolado. Este facto iria manter-se durante grande parte da prova.
Fonte: Fernanda Silva
Lá estou eu sozinho e abandonado...
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Com as subidas o ritmo também desceu naturalmente mas nunca parei de forçar o andamento. Sabia que não podia desistir mesmo seguindo sozinho. Na zona das fogueiras, o vento não ajudava e o pior ainda estava para vir. De mansinho começou a cair alguma chuva miudinha o que por um lado serviu para arrefecer o corpo (mesmo com temperaturas "baixas" estava a transpirar bastante, coisa que não é normal) mas por outro tornou o chão bastante escorregadio, começando a sentir os pés a não agarrarem totalmente ao asfalto.
Por esta altura começo a ver um atleta no meu campo de visão e percebo que em algumas centenas de metros o poderia alcançar. Dito e feito. Ele não se deixou esmorecer e seguiu comigo. Juntos enfrentámos as piores partes da prova, aquelas últimas boas subidas, com chuva e vento contra a atirar para o forte.
Foi por volta do 11º quilómetro que começou a parte desagradável desta prova e que me conseguiu deixar chateado. Quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa calma e até me esforço para não me meter em confusões. Às vezes reclamo das coisas mas tento controlar-me ao máximo e tento "passar ao lado" de certas situações. Se há coisa que eu faço durante a prova, é tentar ser cuidadoso e tentar agir de forma que não prejudique ninguém. Por exemplo, se há coisa que eu não gosto é de nas curvas apertadas fechar o espaço aos atletas que vão atrás de mim para minimizar o risco de quedas.
Ora bem, esta prova não foi diferente. Com o chão bastante escorregadio e seguindo um atleta atrás de mim, estava a ser bastante cuidadoso na minha abordagem às curvas e algumas parte do piso mais acidentado. A certa altura o atleta passa para a minha frente e numa rotunda bastante apertada, ele fecha-me completamente o caminho. Nessa altura fiquei a pensar "pronto ok, está com medo que o ultrapasse por dentro, tranquilo..." mas também fiquei a pensar que foi a primeira vez que tal me sucedeu. Sim, até hoje nunca ninguém me tinha fechado o caminho como ele fez.
Tornei a passar para a frente dele e foi quando a festa começou. Ele ia como se diz na gíria "à mama" aproveitando o facto de eu ir na frente e estar a cortar o vento. Toca-me uma vez no pé. Toca-me uma segunda vez no pé. E torna a repetir a brincadeira mais umas duas/três vezes. Se ele fez de propósito? Acredito que não. Mas na situação dele, para mim bastava acontecer-me uma vez. Passava imediatamente para o lado e deixava de andar "à mama". Um toque destes é o suficiente para causar uma bruta queda, isto tendo em conta a velocidade a que nós seguíamos. Mas a festa não tinha acabado.
A menos de 2 quilómetros do final, ele adicionou a cereja no topo do bolo. Ele seguia ligeiramente atrás de mim, fazemos uma curva apertada à direita e que tinha um bom passeio. Que é que ele faz? Toca de cortar a curva toda seguindo por cima do passeio, acabando a curva ao meu lado. Isso já não tolero. Saiu-me logo "foda-se, que é essa merda pá?!". Decidi nesse momento que me ia esfarrapar todo para que ele não acabasse à minha frente.
Seguimos mais algumas centenas de metros juntos mas à entrada para o último quilómetro e correndo o risco de ser muito cedo pois sabia que ainda faltava a boa subida que nos leva para a meta, comecei a atacar com tudo aquilo que ainda tinha. Ele que viesse comigo se conseguisse. E tentou.
Como podem ver pelo vídeo acima e pela foto em baixo já na meta, a distância que nos separou não foi assim tanta. Naqueles últimos 200/300 metros olhei para mais vezes para trás do que na prova toda. Bem, em boa verdade durante o resto da prova não olhei nem uma única vez para trás. E tenho que ser sincero. Senti-me tão chateado com a situação, que nem fiquei na zona de chegada. Em qualquer outra situação, um despique final assim com um atleta, ganhasse ou perdesse esse despique, tinha cumprimentado o atleta com grande desportivismo. Agora nesta situação, desculpem a minha atitude, mas preferi nem encarar o atleta. Não consigo respeitar as coisas que ele fez.
Fonte: RUN 4 FFWPU |
Acabei a prova em 12º da geral e naquele agridoce 6º lugar do escalão, ficando a um lugar de finalmente ter um troféu desta maravilhosa prova. O meu tempo oficial foram uns agradáveis 51m58s, tempo que sei que é possível melhorar mas que está de acordo com o que foi esta época e também com as condições desta prova.
Fonte: RUN 4 FFWPU Obrigado pela maravilhosa foto! |
Para terminar a noite em beleza, foi tempo da bela da sardinhada com aquelas pessoas que me apoiam incondicionalmente nestas minhas maluqueiras da corrida. E agora? Agora quero é sopas e descanso! Bem, sopas talvez não. Se vou ficar de "baixa" duas semanas é para fazer de tudo menos comer sopinha. Desejem-me umas boas férias da corrida!
Resultados: 39ª Corrida das Fogueiras
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39ª Corrida das Fogueiras
julho 3, 2018
15
Excelente Vitor. Muitos parabéns. E agora … boas férias, aproveita bem :)
ResponderEliminarGrande abraço
P.S. Ahh … e finalmente posso afirmar que o gajo existe em carne e osso ;)
Foi um prazer conhecer-te finalmente! Foi rápido mas intenso eheheh
EliminarUm abraço!
Grande prova Vítor, mesmo com esses sinais contraditórios que o corpo te deu! Eu penso que a organização mudou a hora da corrida por causa do jogo porque também ia com a ideia das 21:15.
ResponderEliminarSozinho e abandonado é coisa que uma pessoa nunca se sente nas Fogueiras!
Estranha essa atitude do outro atleta. Felizmente que não houve nenhum azar!
Grande abraço e bom descanso!
Boa tarde. A partida da Corrida das Fogueiras foi sempre as 21H30, como dita o regulamento.
EliminarPaulo Mamede
Olá Paulo Mamede,
EliminarE tem razão naquilo que está a dizer. Eu é que me regi pela informação no site da empresa que vos forneceu serviços técnicos (Xistarca) e lá dizia que começava às 21h15... Como pode ver aqui: http://xistarca.pt/eventos/corrida-das-fogueiras
Um abraço
Muitos parabéns, pela tua prova! O corpo gosta mesmo de pregar essas partidas mas o que importa, no final, é que fizeste um excelente tempo :)
ResponderEliminarLamento o comportamento do outro atleta... Não há explicação para atitudes dessas e mexem mesmo com uma pessoa... Mas é seguir em frente e continuar a fazer o que a nossa consciência nos diz que é correcto.
Boas férias!
Muito obrigado :) no futuro quero ainda fazer melhor!
EliminarJá que falas mal publicamente de um atleta que toda a gente pode identificar, seria correcto partilhares o teu texto com esse atleta e dares-lhe a oportunidade de comentar.
ResponderEliminarEle pode ter agido mal, mas aqui só ouvimos o teu lado da história.
Sim não me faltava mais nada do que lhe ir pedir justificações. Ele é adulto e sabe o que fez. Sim toda a gente pode saber quem ele é basta ir à classificação e existem vídeos e fotos de ele a vir atrás de mim na parte final da prova.
EliminarA sério não entendo mesmo porque é que eu deveria sequer falar com ele. No máximo o que eu deveria fazer era queixa dele à organização. Mas isso não vale a pena. Ele apenas que meta a mão na consciência e saiba aquilo que fez.
Obrigado pelo teu comentário anónimo.
Olha agora.. era pedir autorização para publicar no próprio blog? Juizinho...
EliminarMesmo a sério Filipe era o que mais me faltava!
EliminarParabéns pela prova e desejo-te umas ricas e bem merecidas férias!
ResponderEliminarUm abraço!
Muito obrigado João! Um grande abraço
EliminarBela prova, parabéns! Muito aguentaste tu, com esses toquinhos todos nos pés. Acho que soltava logo uma caralhada. Bom, tem mas é umas boas férias e aproveita para fazeres um treininho acima de 4’30” para veres como vivem as pessoas normais.
ResponderEliminarPois acho que faltou um caralhada para o pôr logo em sentido...
EliminarAhahaha se fores ao Strava vês que já estou a realizar o que desejas :p
Um abraço!