Campeonato Regional de corta-mato de Setúbal

Em Novembro durante semanas tive as baterias apontadas ao famoso corta-mato da Amora. Treinei, puxei por mim em percursos de treino que apenas servem para dar cabo das pernas (quem mora em Odivelas sabe bem o que é andar às voltas nas Colinas...), e sentia-me em forma para enfrentar o primeiro corta-mato da época. Por questões profissionais acabei por não conseguir estar presente na Amora. Mas desta vez, nada me impediu. E que experiência que foi.

O corta-mato começou logo no dia anterior com uma pergunta pertinente na minha página de Facebook. Como era a primeira vez que ia correr com sapatilhas de bicos, a pergunta era simples: com ou sem meias? As respostas foram praticamente 100% para o lado de correr com meias. Estava também reticente nas consequências de correr com bicos. Mas foi a melhor decisão que tomei. Que sensação!

Cheguei mais que a tempo à zona da prova (Paio Pires), estando já a decorrer há algum tempo provas de outros escalões. Já tinha a boa notícia que o Vitória tinha sido vice-campeão de veteranos. Sem pressão! Este tipo de provas leva aos típicos atrasos, o que permitiu estar mais tempo na conversa com o pessoal da equipa, coisa que para mim se revela importante pelo facto de ainda ser um membro relativamente novo no Vitória. Quase à hora de que deveria ser a nossa prova, fomos aquecer.

O corta-mato é aquele tipo de provas que segue o ritual de primeiro teres que te apresentar na câmara de chamada. Tivémos que esperar que algumas atletas da prova anterior passassem a linha da meta (sempre com muitas palmas) e só depois podemos avançar para a linha de partida. Aqui tivémos o briefing do nosso experiente Jorge Robalo, que acreditem foi muito importante! É incrível o que estamos sempre a aprender mesmo depois de já estarmos há alguns anos nisto.

A partida foi dada e seguiu-se um ritmo... controlado. Deixei-me estar na expectativa. Não quis acompanhar os atletas da frente e preferi tentar primeiro habituar-me ao piso, à confusão de que é correr em espaços tão curtos no meio de tanta gente. Essencialmente, tive calma. Apesar da curta distância, ainda tínhamos 5 voltas pela frente.

Fonte: Paulo Pedro
Segui sempre controlando o grupo da frente: ora deixando-me ficar um bocadinho mais para trás, ora aproximando-me um pouco. Ainda seguia muita gente junta para eu me estar a meter lá no meio. Percebi que estava numa prova em tudo igual aos corta-matos que apenas até hoje vi pela televisão. Estava a assistir e a correr numa prova de tática. Não era segredo nenhum que o Vitória e o Pedro Pessoa eram os candidatos à vitória neste Regional. E o que se estava a assistir era a uma corrida em bloco da nossa parte, sempre com os atletas do Pedro Pessoa a acompanhar-nos.

Durante 2/3 voltas, seguiu-se mais do mesmo. Era incrível até ver o Robalo a deslizar desde a frente do grupo, até praticamente cá atrás onde eu me ia encostando. Por outro lado, eu também estava a ganhar mais confiança. Sentia-me bem e correr com os bicos estava a dar-me excelentes sensações. Porque acreditem: eu sou um coninhas em corta-mato. Tenho medo de escorregar nas curvas, nas descidas, etc. E usar um calçado apropriado muda tudo. Cheguei a fazer curvas completamente lançado com a confiança que mal pusesse o pé no chão para mudar de direção, que não ia parar ao meio do chão.

Fonte: Paulo Pedro
A partir da 3ª volta tudo se alterou. O grupo esticou, os candidatos naturais à vitória seguiram para a frente, e eu também deixei de estar para trás. Passei alguns atletas que ficaram para trás, inclusivé alguns atletas de equipa que estavam em dia não. Mas não pensem que isto foi um mar de rosas. Basicamente a prova transformou-se numa prova de resistência. O meu ritmo não aumentou. até desceu. A minha pulsação estava já bem mais elevada. A força para subir já não era a mesma. Quando passei pela zona da meta para entrarmos na quinta volta, eu já só me apetecia ficar ali.

Mas continuei. Neste momento já não havia grupo, já não havia nada. Já só havia atletas dispersos a tentar manter a passada. O apoio das pessoas que assistiam (uma das belezas do corta-mato) intensificou-se para nos dar alento para as últimas centenas de metro finais. No início da penúltima reta ainda tive um "empurrão" de um atleta a quem estava a dar uma volta de avança. E acreditem que soube bem! Ora reparem lá na cara com que eu já seguia:

Fonte: Paulo Pedro
Acabei por me conseguir colar ao meu colega de equipa Marco Cardoso e deixei-me estar. Já nada mais havia para fazer, mais ninguém para apanhar. Seguimos juntos até à meta já quase numa passada controlada e fiz questão que ele passa-se na minha frente.

Fonte: ?
Para mim este corta-mato foi uma experiência incrível. Correr com estratégia, em equipa, e com atletas deste nível, é uma sensação indescritível. Nem sei em que lugar fiquei ainda (fui o 3º classificado da equipa), mas sei o mais importante. O Vitória Futebol Clube é bicampeão regional de corta-mato. E o resto é conversa.

Fonte: Paulo Pedro

Campeonato Regional de corta-mato
janeiro 27, 2020
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Comentários

  1. Brutal. Grande prova, e mesmo à pro. Gostava de ter visto (e de participar, um dia). Muitos parabéns, boa recuperação!

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    Respostas
    1. Não seja por isso Filipe! https://www.youtube.com/watch?v=MEEYYdRI5ok

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  2. Muitos parabéns!
    Correr com bicos deve ser uma experiência e tanto!
    Um abraço

    ResponderEliminar
  3. Parabéns!

    Percebes agora a diferença entre correr com e sem bicos?

    Ahhh, pois é :)

    A parte chata costuma ser na partida se alguém te pisa ou se pisas alguém, mas também faz parte :)

    Abraço

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    Respostas
    1. Obrigado! Epa sim, sem dúvida é outra loiça!

      Sim ao início fiz bastante cuidado, estava mesmo a imaginar alguém a pisar-me e a ter de encostar logo ali...

      Abraço!

      Eliminar

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