42ª Corrida das Fogueiras



Eu nem sei por onde começar esta crónica. Nem como acabar. Tantos sentimentos: felicidade, dor, desilusão, irritação, tristeza. Tanta coisa condensada em apenas uma prova. E a pensar que há um ano o sentimento era apenas um: pura felicidade.

Tenho passado a mensagem que estou longe do meu melhor. Este ano de 2023 tem sido azarado e o caminho para esta prova também teve o seu tempero de surpresas. Mas acreditem, que mesmo sem fazer treinos de velocidade pura e de ainda estar a ganhar confiança depois da minha primeira rutura que fiz em Março, os dias que antecederam à prova levaram-me desde o céu ao inferno. 

Céu: tive alguns dias de treino que não me sentia tão bem desde Dezembro de 2022. E não pensem que era por estar em boa forma. Digo isto apenas porque fiz alguns treinos sem qualquer tipo dor ou moínha. Que sensação fantástica.

Inferno: sensação destruída 48 horas antes das Fogueiras. Novamente como em Dezembro. Mas desta vez com uma fascite plantar. Do nada, começa-me a doer o pé por volta da hora de almoço de quinta-feira. À noite nem conseguia pôr o pé no chão. Como é que isto aconteceu? Se calhar tenho de ir a uma bruxa para tentar descobrir. Tratamento feito na sexta com aquela pessoa que está lá sempre para estas situações, o meu amigo Paulo Monteiro. Mitigou-me um pouco as dores, mas sabia que ia iniciar a prova limitado.



Vamos à prova. Desta vez entrei no bloco de partida a tempo e horas, pudendo encontrar sempre aquelas caras conhecidas e respirar um pouco um excelente ambiente que se vive em Peniche. Estava frio (uma amplitude térmica de mais de 15 graus para Lisboa) mas também uma humidade brutal. O vento esse, o normal em Peniche. Partida dada. 

Dois atletas seguiram para a frente da prova (Said Ameqrane e Roberto Ladeiras) e ficaram no mundo deles até ao final da prova. Este descolar, afetou o ritmo do segundo grupo no qual eu seguia. Comparando os tempos com o ano passado, os ritmos foram mais lentos, havendo um maior controlo dos atletas que seguiam à minha volta. Eu sentia-me bem e fui várias vezes para a frente deste grupo, sendo revezado por outros atletas, num constante vai e vem na liderança deste grupo. 

Passei aos 5km com mais 12 segundos do que o ano passado (16m23s). Não estava preocupado, sabia que o tempo do ano passado não dava para repetir pois não tenho ainda pernas para isso. Com o começar do declive positivo, os quilómetros seguintes foram ainda mais controlados. Usando aqui uma frase feita: mas algo se descontrolou em mim.

Comecei a sentir um desconforto a nível do estômago, quase como se não tivesse feito bem a digestão. Cheguei até a arrotar ao pré-treino. E logo quase de repente, começaram-me a dar pontadas a nível intestinal. 6km, 7km, 8km. Eu por esta altura já estava a correr completamente torto e em completo sofrimento. Exatamente aos 30 minutos (9km), fiz algo que nunca tinha feito até hoje (em prova) desde que comecei a correr: tive que encostar para... vocês já entenderam. Foram exatamente 22 segundos (eu parei o relógio, por isso sei a diferença do meu tempo de relógio para o tempo de cronómetro). Segundos que eu nunca mais recuperei, nem fisicamente nem mentalmente.

Antes de ter parado, já o grupo se tinha partido após o Bruno Lourenço "ter metido uma abaixo" e seguido para a frente para aquilo que curiosamente o levaria a fazer um tempo exatamente igual ao meu do ano passado (mas dando-lhe um 3º lugar final ao invés do meu 5º). Mal arranquei depois de fazer o que tinha a fazer, percebi o que me tinha acontecido. Estava completamente sozinho, sem ponto de referência em lado algum. Não desisti. Dei aquilo que tinha, apesar de ainda estar desconfortável. Por esta altura, eu já nem sentia a fascite.

Seguiram-se vários quilómetros de sofrimento individual, como todos nós sabemos que é a corrida. Tive mais uma pontada intestinal que acabou por abrandar, mas seguia sempre desconfortável. E esta combinação explosiva de fatores, acabou por me rebentar mentalmente e fisicamente. Nos últimos quilómetros, onde o ano passado brilhei com 3:21/km, 3:12/km e 3:05/km, este ano foram 3:29/km, 3:23/km e 3:25/km. Impensável. Estava tão desgastado que nem consegui evitar ser ultrapassado no último quilómetro pelo atleta André Silva que até gritou pelo meu nome para tentar ir com ele.

Passei a meta. Estava enervado, triste, revoltado. Tive a sensação que alguém da organização me ia dar uma medalha, mas mandei um grito de revolta e dei um pontapé numa grade que obviamente caiu ao chão. Ficam aqui as minhas desculpas públicas a toda a organização. Não mereciam de todo esta atitude. Acabei em 9º da geral, com um tempo oficial de 51m10s. O meu tempo de relógio foi de 50m48s, que curiosamente faz jus ao meu objetivo de fazer um tempo na casa dos 50 minutos. Mas o que conta é o oficial. E com a merda de tempo que fiz, acabei até por prejudicar a equipa, tendo ficado coletivamente à porta do pódio, a cerca de 2 minutos do terceiro lugar.

Aprendizagens? Meus amigos tantas. Fiz uma refeição que já faço tipicamente para estas provas à noite (arroz cozido, amendoins e ovo cozido). Mas comi demasiado tarde, tendo acabado a refeição menos de 3 horas antes. Também já falei com quem tem mais conhecimento do que eu, e que me disse que estas gorduras se bem que boas, podem ser de digestão difícil. A rever. Comi também uma barra que nunca tinha comido 1 hora antes da prova. Merda de erro de principiante. NUNCA comer nada que não tenha sido experimentado antes em prova. 

Sinto que muito ainda havia a dizer, mas tenho de terminar com isto. Senti em Peniche um reconhecimento por este meu cantinho da Internet como talvez nunca tenha sentido. Foram tantas as pessoas que vieram ter comigo a dizer que me seguiam, a agradecer, enfim, apenas a querer cumprimentar-me. A todos o meu muito obrigado. São uma inspiração para mim.

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Resultados: 42ª Corrida das Fogueiras

Corrida das Fogueiras
junho 27, 2023
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