Tentar bater o meu recorde da distância da meia maratona é algo que estou a perseguir há alguns anos. Sei que eventualmente seria "fácil" baixar uns pózinhos do tempo que fiz na longínqua Meia Maratona de Lisboa em 2017 (01h12m31s) mas por uma razão ou por outra (maioritariamente outras provas e compromissos com os clubes), nunca consegui apostar no treino para a distância e que encaixasse na perfeição a nível de calendário. Esta época percebi logo que os astros estavam alinhados para preparar a distância como deve ser.
Retiro o que disse. Como é possível dizer que tudo estava bem alinhado quando uma semana antes tinha um Campeonato Nacional de Corta-Mato Longo? E fora alguma lesão que felizmente não apareceu, fazer esta prova uma semana antes foi mesmo uma "má ideia" (não tinha como fugir na verdade). Fiquei com os gémeos completamente bloqueados (uma tensão horrível e com uma ligeira inflamação no gémeo esquerdo) e só resolvi na quarta quando fui fazer massagem e tratamento com o meu amigo Paulo Monteiro. Mas se eu sabia que não iria poder fugir do Nacional, nessa mesma quarta-feira decidiu bater-me forte uma gripe que me fez até deitar na cama a meio do dia. Felizmente depois de me encharcar em drogas, os dias seguintes apesar de estar longe de me sentir a 100% (para quem é pai, imaginem também as noites com um bebe de 8 meses com gripe ao mesmo tempo) deram-me alguma esperança que conseguisse ir fazer a prova.
Mesmo acordando com a cabeça a latejar por falta de sono, no domingo sentia-me fisicamente bem (decidi parar com as drogas no sábado de manhã para "limpar o corpo") e isso também é fruto de um tapering como nunca fiz. Contas por alto, devo ter feito algo como 35km na semana antes da prova. E que diferença fez. Sentia-me completamente solto e confiante fisicamente. Mesmo cheio de "catarro".
Depois de um bom aquecimento com uma companhia que tive a sorte de conhecer uma hora antes da prova (Filipe Franqueiro), e que por coincidência tinha como objetivo um tempo igual ao mesmo, desde logo que falámos em tentar ir juntos. Mal sabíamos era que íamos ter muita companhia. Juntamente com o Bruno Lourenço e Roberto Ladeiras, fomos algo tarde para a partida. Mesmo havendo blocos, juntaram os mesmos demasiado cedo, o que fez com que tivessemos de partir de lado a roçar uma baia.
Claro está, foi mais uma má partida a juntar à semana anterior. Porém não foi péssima, apenas tive que correr contra o prejuízo. Foquei-me completamente e naquelas primeiras centenas de metros, apenas queria perceber onde andava o Filipe e tentar perceber que atletas é que eventualmente estariam a ir para os ritmos que eu queria. Tenho a sensação que nos primeiros quilómetros, o grupo que iria durar quase até ao fim da prova se formou logo.
O facto da edição deste ano também incluir o Campeonato da ANAV (Associação Nacional de Atletismo Veterano) fez com que os Descobrimentos este ano tivessem os melhores atletas (claro está, mesmo sendo veteranos) à partida da prova. Conhecendo os Descobrimentos como conhecia, nem nos meus melhores sonhos pensei que pudesse fazer esta prova em grupo. E que grupo meus amigos. Claro que nem todos foram para a frente puxar, mas a maioria de nós ia-se revezando quilómetro após quilómetro. Passando aos 10km com 32m56s, que ajuda foi este grupo até sensivelmente ao quilómetro 11, pois tivemos sempre vento contra, que mesmo não sendo forte, estava a maçar-nos cada vez mais.
Claro está que o vento mesmo assim fez das suas. Por várias vezes mesmo depois do dito retorno, mesmo assim estávamos a apanhar com vento. Por esta altura tive que tomar a decisão se tomava ou não um gel. Há muito tempo que não tenho esta prática e não me estava a apetecer arriscar. Por outro lado, estava tanto frio que nem sentia as mãos para conseguir tirá-lo do bolso dos calções. Foi sem dúvida a opção correta, pois não sei se não me poderia ter deixado o estômago KO.
Apenas por um momento na descida da Rua do Ouro senti que me estava a acabar as forças. Senti que os atletas à minha volta iam mais à vontade e que eu estava a ficar para trás. No entanto cerrei os dentes (tanta foto em que eu apareço até a fechar os olhos para recupera forças mentalmente) e continuei naquele ritmo alucinante que por sinal até estava a aumentar. Por esta altura apenas apanhámos um atleta que seguia no grupo da frente, o meu colega de equipa Bruno Lourenço.
As coisas mudaram só muito perto do final. Lentamente o grupo foi esticando e o ritmo disparou da casa dos 3:20/km, para uma média quase de 3:15/km. Mesmo no último quilómetro apenas ter ficado no comboio já gigante do nosso grupo, ainda acabei a fazer as últimas centenas de metros a 3:11/km.
Passei a meta, desliguei o relógio e gritei para soltar toda a energia que se acumulou em mim naquele momento. Vi o Filipe, fui ter com ele para lhe dar um abraço, e ele próprio estava em lágrimas com o que tinha feito (ainda acabou 13 segundos à minha frente!). Olhei para o relógio, e o tempo bate exatamente ao segundo com o tempo bruto da organização: 01h09m16s. Tirei a quantia insana de 3m15s ao meu recorde pessoal. Tenho noção que por estar à pouco tempo a trabalhar com o meu novo treinador, que ele próprio achava que ainda talvez não seria possível baixar da 01h10m. A classificação essa foi de um inesperado 12º lugar, que é excelente, mas inesperado porque no passado cheguei a ir várias vezes ao pódio nesta prova com tempos de 01h13m. A comprovar-se mais uma vez que os Descobrimentos é a melhor Meia Maratona da capital (na minha opinião claro).
Resta-me agradecer ao apoio imenso que recebi durante a prova. Eu ouvi toda a gente. Cada grito que recebi, era uma barra energética que entrava no meu corpo. Simplesmente desculpem por desta vez nem a mão levantar. O foco que pus nesta prova foi imenso e quis pôr na estrada tudo o que tenho treinado e todas as horas que tenho tirado à minha familia (e principalmente à cama diga-se de passagem). Obrigado a ti (Johanna) por me dares a liberdade para fazer este desporto que tanto exige de mim. És uma super mulher e uma mãe magnífica. Amo-te.
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Resultados: Meia Maratona dos Descobrimentos 2023
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