Análise Kiprun Ultralight

O meu início no mundo da corrida a nível de calçado começou como tantas outras pessoas. Não tinha equipamento absolutamente nenhum apropriado e corria com o que tinha. Neste caso eram uns calções e uma tshirt qualquer, e uns ténis da Kalenji que tinha desde o secundário para fazer educação física. Esses ténis que na altura devem ter custado pouco mais de 20€, acompanharam-me durante os primeiros anos de mudança de vida (de gordinho a maluquinho do desporto) e fizeram centenas/milhares de quilómetros de corrida e bicicleta. Aliás, as minhas primeiras provas foram com esses mesmo Kalenji. Confesso que quando comecei a gostar de correr e a levar a corrida mais a sério, me deixei influenciar pelos outros atletas e pelo sem número de marcas que existem neste mundo da corrida.

No entanto, algo que tenho repetido nos últimos anos foi sempre: os ténis da Decathlon têm cada vez melhor aspeto (e qualidade), um dia quero experimentar um modelo deles. Finalmente esse dia chegou e a minha escolha recaiu nos estupidamente acessíveis Kiprun Ultralight. Porquê a palavra estupidamente? Porque ainda não acredito que uns ténis que me têm dado tão boas sensações a correr, apenas custam (sem qualquer tipo de promoção) apenas 65€. Vamos lá esmiuçar estes Kiprun.


Os Ultralight não tentam ser aquilo que não pretendem ser: uns ténis com um design super agressivo, que chama a atenção em qualquer prova ou grupo de treino. O mais certo é perderem-se no meio dos Adidas e Nike deste mundo. No entanto eu acho que é mesmo nisso que ganham pontos. Apenas têm uma cor para homem (neste caso amarelo), tendo apenas um degradê na sola. De resto não têm grandes artíficos. Umas letras que identificam o modelo, e a palavra UP'BAR na sola. E é isto. A língua é simples (até de mais, mas isso mais à frente), não dizem nada por dentro, e um formato como tantos outros. E no entanto, tudo junto nos diz que estes Ultralight não são um simples modelo para rolar.

A nível de conforto, mal os calçamos percebemos que a Decathlon/Kalenji não andaram a brincar nos últimos anos. Apesar do seu aspeto minimalista, os Ultralight são uns ténis super confortáveis. Se os tivesse que comparar, teria que os comparar com os inevitáveis New Balance 1400v6. Uma sola mais baixa que o normal, mas o suficiente para não se tornarem desconfortáveis. O tecido com que são construídos não deixam dar uma sensação de que os pés vão começar a sobreaquecer a qualquer momento. E aliás, tenho corrido com eles até com demasiado calor e sempre tive os pés confortáveis. Mesmo com tempo chuvoso, os pés não ficam a nadar em água, o que é um factor comum a tantos outros modelos que dão primazia ao conforto inicial e esquecem por completo todas as condições climatéricas que um atleta pode enfrentar.


Tal como já disse, se os tivesse que comparar, era com os 1400v6. A sua sola é agressiva e com uma altura a dar mais primazia a ritmos altos (sim isto agora já não é bem assim com os modelos de placa de carbono que têm solas altas mas são feitos para correr rápido). Mas conseguem ter estas caracterísicas mantendo um excelente amortecimento, dando sempre uma sensação que o pé mesmo assim está a receber algum apoio e impulso (tecnologia UP'BAR) para a próxima passada. Coisa que não acontece com modelos ainda mais agressivos como uns Saucony Type A8. E algo que acho muito interessante, é o facto de o drop ser apenas 6mm. A forma como consigo fazer ritmos altos com este modelo é notável. Sabem que não ligo muito ao drop nos modelos que compro, mas olhando um pouco para trás, começo a perceber que os meus modelos preferidos nos últimos tempos têm sempre um drop entre os 6 e 8mm. Se calhar começo a notar aqui um padrão.

Uns ténis que se se querem rápidos, tipicamente também queremos que eles sejam leves. E é isso que eles são. Para o tamanho 41, têm um peso de 182g. Por exemplo, como disse na minha análise aos Joma R.3000, os Nike ZoomX Vaporfly Next% 2 (que nome tão idiota, credo) têm 187gr para o mesmo número. Vai fazer zero diferença ao fim do dia, mas só serve para realçar que são realmente um modelo leve.


Por esta altura do artigo deveria começar a entrar pelos aspetos negativos. E um deles costuma ser (quase) sempre a aderência. Mas... a verdade é que nem nisso consigo apontar. Fiz alguns treinos com eles a chover e piso húmido, e nem por uma vez senti que o pé me estava a escapar. Quando já usei tantos modelos de três dígitos que rezava pela vida cada vez que curvava a chover.... Bem mas continuando, a única coisa que tenho a apontar é que: a língua dobra na ponta. Sim. Nem sequer me magoa (alias é bastante fina). É apenas uma coisa estética. É só mesmo a ponta, e fica assim a tapar ligeiramente as letras que dizem KIPRUN. Tinha que arranjar um ponto negativo não era?


Em jeito de conclusão, algo que ainda não consigo avaliar é a durabilidade dos Ultralight. Neste momento levam cerca de 100km, e tudo está como novo. Duvido que me durem 1000km, mas não conheço que nenhum modelo deste tipo que faça essa quilometragem. Acredito nuns confortáveis 600km. 700km a esticar. A partir dai não sei se o amortecimento ainda será o melhor. E quando estamos a falar de um modelo que se quer para correr rápido, queremos ter o maior conforto possível para estes andamentos. Acho que para fazer séries curtas, longas, fartleks, uma tempo run, e provas até 10/15km, estes meninos são uma excelente aposta. A Decathlon no site diz que até para maratona servem mas honestamente não aconselho. E por este preço, o que é que podemos pedir mais? A minha dúvida neste momento já começa a estar em qual será o próximo modelo da Decathlon que eu vou experimentar.


Pontos Positivos
+++ Preço
+ Conforto
+ Respirável
+ Aspecto
+ Amortecimento
+ Peso
+ Aderência

Pontos "assim-assim"
+- Dobra da língua (inserir emoji a bater com a mão na cabeça)
+- Num próximo modelo, talvez possam considerar um design mais agressivo e chamativo

Onde comprar? 





análise
junho 11, 2022
2

Comentários

  1. Excelente análise, Vitor! Fiquei com vontade de experimentar uns. Obrigado pela partilha! Abraço, Paulo Sousa

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